O que «eles» dizem<br> e o que «eles» fazem

Jorge Messias

A Igreja ca­tó­lica, criada há dois mil anos é uma das mais an­tigas e po­de­rosas ins­ti­tui­ções do mundo… A Igreja ja­mais perdeu as suas for­tunas, so­bre­tudo de­vido a não pagar im­postos em quase todos os es­tados, po­dendo mo­vi­mentar o di­nheiro e in­vestir nos mer­cados da ma­neira que quiser... Sabe-se que, apenas em ac­ções e obri­ga­ções, o Va­ti­cano tem in­ves­ti­mentos de mais de 8 bi­liões de dó­lares; que con­trola in­te­resses da in­dús­tria dos ar­ma­mentos; que possui, em todo o mundo mais de 100 000 grandes pro­pri­e­dades (só na Ale­manha, o valor destes la­ti­fún­dios é cal­cu­lado em cerca de 100 000 reais bra­si­leiros). Talvez que com todo este di­nheiro pu­dés­semos acabar com boa parte ou com toda a fome no Mundo...» (Ma­la­quias da Silva,“O lado oculto da Igreja Ca­tó­lica”).

«São Pedro não tinha conta no banco e quando teve de pagar os im­postos, o Se­nhor mandou-o ao mar pescar e en­con­trar a moeda dentro do peixe, para pagar… E, quando S. Fi­lipe – como está des­crito nos Actos dos Após­tolos – en­con­trou o mi­nistro da eco­nomia da rainha, não pensou “Bem! Cri­emos uma or­ga­ni­zação para sus­tentar o Evan­gelho… Não, não fez com ele um ne­gócio!Anun­ciou, bap­tizou e… foi-se em­bora...» (Papa Fran­cisco I, em de­cla­ra­ções ci­tadas pela Agência Ec­clesia).

O Va­ti­cano tornou-se pa­ragem obri­ga­tória para os grandes il­lu­mi­nati ne­o­li­be­rais. Todos os ca­mi­nhos vão dar a Roma e à sede de uma Igreja mun­dial cada vez mais ne­ces­sária a um sis­tema anti-his­tó­rico de loucos que cons­tan­te­mente ameaça frag­mentar-se e de­sabar, pro­du­zindo o caos. Di­ri­gido por grandes se­nhores fa­bu­lo­sa­mente ricos, pro­cura re­duzir o tra­balho à es­cra­vidão. Por onde passa fica a mi­séria. E a mi­séria gera a re­volta das massas po­pu­lares, aquilo que, em boa ver­dade, mais apa­vora os ricos.

Por isso, desde Obama ou Merkel a Durão Bar­roso ou Dilma, todos os novos e ve­lhos na­babos vão beijar o anel de S. Pedro e falam com o Papa, a sós. O Va­ti­cano for­nece ao ca­pi­ta­lismo a fa­chada e os bas­ti­dores. Atenua os cho­ques so­ciais e a ira po­pular. Faz-se pagar bem, como com­provam os lu­cros que tem e crescem em plena san­gria dos povos. Diz-se que só a Te­sou­raria da Santa Sé tem um «porta-mo­edas» de 600 mi­lhões de euros e gere um banco cen­tral (o IOR) e uma ci­dade-es­tado (o Va­ti­cano ) que rendem bi­liões anuais.

O ne­o­ca­pi­ta­lismo já nem se­quer tenta dis­farçar que as massas fi­nan­ceiras que rouba aos po­bres e aos tra­ba­lha­dores vão di­rei­ti­nhas para a banca das ma­fias e es­correm para os co­fres dos que pro­movem a fome e a mi­séria no mundo. As altas hi­e­rar­quias re­li­gi­osas ali­nham na van­guarda e na re­ta­guarda do im­pe­ri­a­lismo ca­pi­ta­lista. Um só exemplo, para ajudar à «fo­to­grafia» do gi­gan­tesco es­cân­dalo que en­volve leigos e altos ecle­siás­ticos pro­mo­tores da po­breza e da fome «glo­bais»: em 2012, os 100 mais des­ta­cados di­ri­gentes fi­nan­ceiros (in­cluindo bancos, ONG, fun­da­ções, etc.) foram pagos pelo peso de oiro de 241 bi­liões de dó­lares. En­tre­tanto, mul­ti­dões de seres hu­manos eram tor­tu­radas e imo­ladas nos al­tares do lucro, da fome, da do­ença, do de­sem­prego e das guerras.

O Papa e os car­deais juram a pés juntos que não é esta a si­tu­ação que gos­ta­riam de ver ins­talar-se na Terra. Mas pro­põem o re­gresso à utó­pica fa­chada da so­li­da­ri­e­dade fi­lan­tró­tica dos ricos para com os po­bres, en­quanto ava­lizam pro­jectos ne­o­nazis como os de um único go­verno mun­dial ca­pi­ta­lista e de uma só cen­tral ban­cária uni­versal.

Na Igreja do Va­ti­cano, a te­oria con­tradiz a acção. Po­sição ina­cei­tável para os co­mu­nistas mas que estes sabem dis­tin­guir da luta de classes co­ra­jo­sa­mente as­su­mida por mi­lhões de crentes ca­tó­licos ou de outas con­fis­sões. Dizia o ca­ma­rada Álvaro Cu­nhal, com pa­la­vras lím­pidas que es­pe­lham bem os nossos dias: «Os co­mu­nistas não têm uma con­cepção ide­o­ló­gica se­pa­rada de uma in­ter­venção prá­tica. Ao con­trário da Re­li­gião, não acei­tamos o con­for­mismo e a re­sig­nação. Não es­tamos a lutar por uma con­cepção; usamos o con­ceito como ins­tru­mento para so­lução de pro­blemas con­cretos da hu­ma­ni­dade e pela trans­for­mação de uma so­ci­e­dade que os venha a re­solver… Es­tamos cá na Terra, com os pés as­sentes na terra!...».




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